Com os casos aumentando, muitas pessoas com sintomas de covid-19 ou até mesmo assintomáticas têm tido dificuldades para fazer testes em laboratórios e hospitais pela alta demanda. Nesse sentido, os autotestes são bastante úteis, uma vez que a pessoa realiza todas as etapas do processo, desde a coleta da amostra até a interpretação do resultado, apenas seguindo as orientações de uso, sem o auxílio de um profissional da área da saúde. "O autoteste pode ser feito do 1º ao 7º dia do início dos sintomas. Caso a pessoa esteja assintomática, ela pode fazer o autoteste a partir do 5º dia de contato com alguém que testou positivo para a covid-19", explica Ronan Cleiton Loures da Silva, consultor farmacêutico do CRF-SP (Conselho Regional de Farmácia de São Paulo).
De acordo com nota técnica do Ministério da Saúde, o autoteste deve ser entendido como uma ferramenta de pré-triagem no diagnóstico de covid-19, ou seja, ele não fornece o diagnóstico de forma definitiva, mas sinaliza uma possibilidade aumentada de doença nos indivíduos positivos.
Segundo o farmacêutico Silva, caso o resultado do autoteste seja positivo (reagente), independentemente de sintomas ou não, a confirmação do diagnóstico de covid-19 deve ser feita em um serviço de saúde, onde a pessoa receberá orientações em relação ao tempo de isolamento e cuidados necessários. "O indivíduo também deve informar as pessoas com quem teve contato, pois elas podem ter se infectado", diz. Vale ressaltar que uma pessoa assintomática também pode testar positivo. "No contexto da infecção pelo SARS-CoV-2, ter sintomas é uma parte do quebra-cabeça, mas não é sempre necessário para o diagnóstico", afirma Ana Luíza Gibertoni Cruz, médica infectologista da UK Health Security Agency e pesquisadora no Departamento de Saúde Populacional da Universidade de Oxford, na Inglaterra.
Segundo ela, não ter sintomas não significa que não seja possível a transmissão para outras pessoas. "Mesmo que o pico de carga viral seja mais baixo e com duração mais curta, o risco de transmissão a outras pessoas não é zero. A transmissão por assintomáticos é um dos fatores pelos quais não conseguimos evitar que surtos localizados se tornassem uma pandemia."
Um outro ponto importante é que, se pessoa apresentar qualquer sintoma grave, como falta de ar, febre alta persistente, letargia, confusão mental e sinais de desidratação, ela não deve fazer o autoteste, mas procurar imediatamente o atendimento médico, alerta Igor Maia Marinho, coordenador da Infectologia do Hospital Leforte Dasa São Paulo e infectologista da Divisão de Infectologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP).
"Como o resultado do autoteste é orientativo, e não conclusivo, pode ser necessária a realização de outro para confirmação", afirma Daniela Caroline de Camargo Veríssimo, coordenadora de orientação farmacêutica do CRF-SP. A farmacêutica dá como exemplo uma pessoa que teve contato com alguém que testou positivo, está com sintomas e ainda assim o resultado do autoteste deu negativo. "Nessa situação, pode ser realizado outro autoteste, mas seria importante a orientação de um médico que pode indicar outra modalidade de testagem."
Os autotestes aprovados pela Anvisa são confiáveis, mas as orientações de uso precisam ser rigorosamente seguidas, de acordo com os especialistas ouvidos pela reportagem.
Diversos fatores podem interferir no resultado, promovendo um falso negativo (quando o teste deu negativo, mas a pessoa pode estar doente e transmitindo o vírus).
São eles: erros no procedimento de coleta, armazenamento inadequado do produto ou baixa carga viral no momento do teste, prejudicando a detecção. Também é possível ocorrer um falso positivo (quando indivíduo testa positivo, apesar de não apresentar doença ou vírus nas vias aéreas), embora seja mais incomum. Isso pode acontecer quando a pessoa não seguiu corretamente as instruções de uso, em contaminações da amostra ou em análises cruzadas em pacientes com outras doenças virais com partículas virais semelhantes ao SARS-CoV-2.
Caso esteja sem sintomas, o ideal é que a pessoa tente manter o isolamento e realize o autoteste no 5º dia após o contato. "Essa estratégia se baseia no fato de que a carga viral se torna mais alta após esse período inicial de incubação e replicação viral, facilitando a detecção pelo teste", explica Marinho, que também é pesquisador vinculado do Hospital Sírio Libanês. A infectologista de Oxford Ana Luíza Gibertoni Cruz diz que, após o contato com alguém infectado, pode demorar até 10 dias para que a infecção se manifeste com sintomas.
"Mas mesmo sem sintomas, a pessoa pode transmitir o vírus. Nesse caso, durante 10 dias, a orientação para indivíduos vacinados é utilização de máscara sempre que na proximidade de outras pessoas, com realização do teste após 5 dias. Indivíduos não vacinados, idealmente, deveriam se isolar por cinco dias, realizar o autoteste no 5º dia após o contato e, se negativo, continuar usando máscara por mais cinco dias", comenta.
Fonte: Bárbara Therrie
Colaboração para VivaBem
10/06/2022 04h00