Especialistas em medicina baseada em evidências científicas divulgaram nesta semana uma carta na revista "Nature Medicine" com 10 dicas para enfrentamento da Covid-19. O texto é da campanha "Choosing Wisely" ("Escolha com sabedoria", em livre tradução), uma iniciativa internacional presente em 25 países, incluindo o Brasil.
Cinco das 10 dicas da "Choosing Wisely" são para a população geral; as outras 5 são voltadas a profissionais de saúde – especialmente médicos.
Especialistas vêm reforçando, de forma contínua, a importância do uso da máscara para combater a Covid – de preferência as PFF2, que são capazes de filtrar o vírus e se ajustar melhor ao rosto do que outros tipos de máscaras.
O que devemos saber sobre as máscaras PFF2/ N95
"As máscaras N95 (ou PFF2 no Brasil) foram associadas a maiores reduções no risco do que as máscaras cirúrgicas ou outras. O mascaramento duplo é preferível ao mascaramento único, a menos que as máscaras sejam N95", dizem os especialistas da "Choosing Wisely".
As N95 são o equivalente americano às PFF2 brasileiras.
Vacina e Covid-19: Preciso usar máscara e evitar aglomerações mesmo depois de vacinado?A segunda dica da campanha também já é bem conhecida: evite lugares com muitas pessoas, principalmente se forem ambientes internos. Isso porque a Covid é transmitida pelo ar – quanto mais cheio for o ambiente, menor a possibilidade de você manter a distância de outras pessoas.
"Manter a ventilação adequada abrindo portas e janelas é uma medida importante para diminuir a propagação da infecção", afirmam os cientistas da campanha.
Quanto menos o ar estiver circulando, maior é a chance de você respirar aerossóis carregando o vírus. Esses dois fatores – pouco distanciamento e ar contaminado – aumentam a chance de contágio.
O teste e o isolamento em casa são recomendados se alguém apresentar sintomas de Covid, como febre, dor de garganta, tosse, perda do olfato e/ou paladar, afirmam os cientistas.
"O teste permite uma estratégia de testagem-rastreamento-isolamento, que é eficaz no controle da propagação posterior", dizem.
Mas eles pontuam que, quando não for possível fazer o teste, o diagnóstico pode ser feito pelos sintomas.
"A maioria dos pacientes pode ser tratada em casa e se recuperar bem com o monitoramento regular da temperatura e da saturação de oxigênio", afirmam. O uso de oxímetros para monitorar a saturação de oxigênio em casa é recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Oxímetro — Foto: G1As únicas intervenções necessárias são manter a hidratação e usar paracetamol para febre e dores no corpo, dizem.“Eu acho que a de número 3 é uma das mais importantes, porque há muitas pessoas que estão achando que um teste negativo pode ser um passaporte para essa pessoa voltar a sair do isolamento social. O teste negativo não é um passaporte para isso, porque ele não descarta a doença. Ele pode errar quando vem negativo", disse Alencar.Confira aqui como cuidar de alguém com Covid-19 em casa e evitar a contaminação.
Profissionais de saúde com máscaras do tipo PFF2 cuidam de paciente internada com Covid-19 em UTI de São Leopoldo (RS), no dia 16 de abril. — Foto: Silvio Avila/AFPOs especialistas recomendam que você procure ajuda médica se:
Eles também sinalizam que deitar de bruços ajuda a melhorar a saturação de oxigênio.
Vacina e Covid-19: Devo escolher a vacina ou esperar chegar aquela que eu quero?A quinta recomendação para a população em geral é: vacine-se assim que puder, mesmo se já tiver tido Covid.
"A vacinação continua sendo uma estratégia extremamente eficaz em nível populacional para a prevenção e mitigação da Covid-19", reforçam os especialistas. "Esta recomendação se aplica mesmo se alguém já teve Covid-19 no passado".
(Se você tem um resultado positivo atual para a doença ou sintomas, espere até receber um teste negativo ou os sintomas passarem).E lembre-se: não é hora de escolher vacina!
Como a campanha "Choosing Wisely" busca promover o cuidado médico com base em evidências científicas, os especialistas recomendam que profissionais de saúde não prescrevam tratamentos sem eficácia comprovada ou ineficazes para a Covid.Eles reforçam que, no momento, não há dados que apoiem o uso dos seguintes medicamentos contra a Covid-19:
"Nenhum deles é atualmente recomendado pela OMS. Esta lista precisará ser revisada à medida que novas evidências surgirem", apontam os especialistas.
O remdesivir é um antiviral experimental aprovado para uso emergencial nos Estados Unidos contra a Covid-19. Seu uso também foi aprovado no Brasil pela Anvisa, apesar de não ser recomendado pela OMS.
VÍDEO: Anvisa detalha utilização e aspectos de segurança do RemdesivirOs especialistas da "Choosing Wisely" avaliaram que o medicamento teve "eficácia marginal", em alguns estudos, em encurtar o tempo de recuperação em adultos quando dado de forma precoce a pacientes que precisaram de oxigênio. Essa eficácia, entretanto, não foi vista em outras pesquisas.
"Não diminui a mortalidade e não é indicado em outras situações clínicas", dizem.
Já o tocilizumabe é um anti-inflamatório usado para tratar artrite reumatoide. Em um estudo da Universidade de Oxford, ele foi eficaz em reduzir mortes entre pacientes internados com quadros graves de Covid-19, mas o medicamento NÃO deve ser usado em casos leves da doença.
"O tocilizumabe é útil apenas em pacientes gravemente doentes, recebendo esteroides, apresentando sinais de inflamação e necessidades crescentes de oxigênio. O uso em outras situações clínicas não é benéfico e provavelmente é prejudicial", reforçam os especialistas da campanha.
A recomendação seguinte é usar corticoides esteroides (como a dexametasona) apenas em pacientes com baixa saturação de oxigênio (hipóxia) – além de monitorar os níveis de açúcar no sangue quando esses medicamentos forem usados.
A dexametasona foi o primeiro remédio que mostrou ser eficaz na redução de mortes por Covid-19. A substância, entretanto, NÃO deve ser usada em casos leves da doença, porque pode piorar o quadro dos pacientes. Como a dexametasona atua inibindo o sistema imune, acaba reduzindo a capacidade do corpo de combater o vírus.
"Os esteroides não trazem benefícios e podem prejudicar os pacientes que não precisam de oxigênio. Não há dados que apoiem o uso de esteroides por um período mais longo (acima de 10 dias) ou uma dose mais alta", reforçam os especialistas da "Choosing Wisely".Por outro lado, em casos graves, ela é útil: quando ocorre a chamada tempestade de citocinas, em que o sistema imune ataca o próprio corpo, o medicamento atua melhorando a situação.
"Quanto mais doente estiver o paciente, maior será o benefício", reforçam os especialistas da campanha. "Outros equivalentes de esteroides, como metilprednisolona ou prednisolona podem ser usados".
O controle do açúcar no sangue deve ser feito para reduzir o risco de infecções secundárias por fungos – como a mucormicose.
Os pesquisadores afirmam que não há dados que "apoiem o uso rotineiro de tomografias computadorizadas de tórax, escores tomográficos ou biomarcadores inflamatórios, como ferritina, interleucina 6 (IL-6), lactato desidrogenase (LDH) e procalcitonina para classificar a gravidade do quadro da doença ou para orientar os protocolos de tratamento".
Por último, os especialistas chamam a atenção para o prejuízo visto no manejo de outras doenças e condições de saúde críticas durante a pandemia, como câncer, tuberculose, doenças cardíacas, renais, questões relacionadas à saúde mental e a parto, cuidado perinatal e imunização infantil.
"Por exemplo, estima-se que a suspensão dos serviços de câncer resultará em mais mortes do que as causadas pela Covid durante a pandemia", dizem. "Os serviços de saúde essenciais devem continuar a ser fornecidos durante qualquer pandemia".
fonte: G1 10/07/2021